SÃO PAULO - A revista britânica “The Economist” destacou em sua última edição, divulgada nesta quinta-feira, o aumento das despesas do governo de Dilma Rousseff, candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à reeleição, na reta final da disputa pela presidência. Segundo a reportagem, a administração de Rousseff embarcou em uma “farra de gastos”, que tornou-se evidente depois que o Tesouro divulgou suas contas de agosto.
A publicação afirma que o déficit primário (antes do pagamento de juros) do país alcançou 14,4 bilhões de reais (US$ 5,9 bilhões) em agosto. “O superávit primário consolidado nos oito primeiros meses do ano até agosto ficaram em apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB). E grande parte do superávit veio dos Estados. O governo federal foi responsável por apenas 1,5 bilhão de reais, ou 0,05% do PIB, o pior resultado para o período desde 1998. O déficit orçamentário total subiu para 4% da produção, nível mais alto desde que o antecessor e mentor de Roussef, Luiz Inácio Lula da Silva, implementou grande pacote de estímulos em 2009, no auge na crise financeira mundial”, disse o texto.
De acordo com a revista, parte da deterioração fiscal não é totalmente ruim, além de ser uma tendência. “O governo pelo menos decidiu parar de ‘pedalar’, forma como os críticos ironicamente chamam o processo duvidoso de adiar pagamentos aos bancos estatais encarregados de distribuir os benefícios como o seguro-desemprego e os auxílios em dinheiro para a população mais pobre, ampliados por Dilma há três meses”.
A “Economist”, porém, ressalta que se a administração do PT quiser cumprir sua meta de superávit primário de 1,9% do PIB em 2014, todas as esferas do governo devem economizar 22,2 bilhões de reais até o fim do ano, “uma meta impossível”. O leilão decepcionante de banda larga 4G realizado nesta semana, ajuda a piorar esse espectro. A reportagem lembra que o governo esperava arrecadar 8 bilhões de reais e conseguiu apenas 5 bilhões de reais.
Na avaliação da revista, se o Brasil mantiver a grade de investimento, o próximo governo precisará reverter essa tendência. “Na teoria, Marina Silva, candidata do Partido Socialista Brasileiro (PSB), prometeu ampliar a política de responsabilidade fiscal. Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), também foi na mesma linha. No entanto, se as pesquisas estiverem certas, nenhum dos dois terão a chance de instituir um novo curso. Os últimos levantamentos mostram que Rousseff tem vantagem confortável em relação à Marina e a Aécio e deve vencer mesmo se houver segundo turno”.
Entretanto, a publicação ressalta que os mercados não estão satisfeitos com a reeleição da presidente e se “desesperam” com essa possibilidade. “Na última segunda-feira, o mercado de ações teve sua pior sessão em três anos e o Ibovespa registrou queda de 4,5%. As ações da Petrobras, a gigante estatal do petróleo que foi muito mal administrada por Rousseff, caiu 11%. O real também teve forte desvalorização em relação ao dólar e em setembro caiu 11% na comparação com a moeda americana”, disse a “Economist”.
Ao citar entrevista feita com Mauro Leos, analista sênior da Moody´s responsável pelo rating dos países da América Latina, a revista aponta que ele reconhece que “o segundo mandato de Rousseff pode ser, na prática, um pouco diferente do de Marina Silva. A presidente não tem outra escolha a não ser cortar os gastos, enquanto Silva poderia enfrentar uma pressão social para voltar atrás em algumas contenções de gastos implícitas em seu programa de governo”.
A matéria, no entanto, ressalta que Silva deve contar com a ajuda dos investidores. Se ela ganhar, os mercados financeiros provavelmente vão se fortalecer. Em contraste, “Roussef tende a enfrentar um período bem adverso nos mercados, o que deve fazer com que as reformas fundamentais nas finanças públicas fiquem ainda mais difíceis”.
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