Barbara Walters posa na festa dos 100 mais influentes da revista "Time" de 2013, em Nova York |
Talvez ela seja a jornalista mais famosa do mundo.
E com razão. Há mais de cinco décadas vem entrevistando os personagens que fazem história e as celebridades que fazem notícia. Por isso é tão estranho escutá-la dizer que se aposenta do jornalismo.
Mas na verdade um jornalista nunca deixa de sê-lo. "Não vou mais fazer uma entrevista a cada semana", disse-me nos escritórios de "The View", o programa que criou em 1997. "Mas se o papa me der uma entrevista, claro que volto." O mesmo faria se pudesse conversar com a rainha Elizabeth 2ª, e possivelmente também se Monica Lewinsky decidisse falar com ela mais uma vez.A entrevista televisiva que Barbara Walters fez com Monica Lewinsky em março de 1999, sobre o caso que teve com o presidente Bill Clinton, foi vista por cerca de 50 milhões de pessoas. Nenhuma outra entrevista teve maior audiência na história da televisão dos EUA. "Ainda estou em contato com Monica", confiou-me, e depois, sem temor, me deu sua opinião sobre essa mulher de 40 anos: "É inteligente, e uma boa mulher".
Walters não só cobriu eventos históricos como fez história. Foi a primeira mulher "âncora" de um programa matutino em nível nacional e a primeira a apresentar um noticiário noturno. Assim abriu caminho para outras mulheres, dentro e fora dos EUA.
"Esse é o meu legado", disse durante nossa conversa, "todas essas mulheres jovens nas notícias. Não havia tantas quando eu comecei; eram muito poucas. Então, se eu tenho algum legado são essas mulheres."
Mas aos 84 anos Walters não tem tudo. "Não creio que as mulheres possam ter tudo", disse-me, refutando a teoria do livro "Lean In", de Sheryl Sandberg. "Nem os homens podem ter tudo. É muito difícil equilibrar sua vida profissional com a vida privada, e cada vez mais as mulheres têm que enfrentar isso."
Ela entrevistou todos os presidentes americanos desde Richard Nixon, e líderes mundiais como Vladimir Putin, Saddam Hussein e Fidel Castro, e quase todos os atores do momento. Suas perguntas são curtas e maravilhosamente claras, como facas. Não há dúvida sobre o que ela quer saber. Seu mantra: não há pergunta proibida.
Qual é seu segredo? "Faço muita lição de casa", disse-me, como se tivesse acabado de começar a carreira. "Creio que é muito importante. Algumas vezes eu sei mais sobre a pessoa do que ela mesma." E se vê. Fez chorar a muitos e tremer a mais de um.
Há mil anedotas. Passou dez dias com Fidel Castro, mas "não me aproximo muito de ninguém", contou-me. E até poderia ter sido "a senhora Clint Eastwood", confessou. "Eu gostava muito do ator, e depois da entrevista ele me convidou para jantar. Mas eu lhe disse não, não, não."
Terminei a entrevista com duas perguntas que ela frequentemente faz a seus entrevistados:
1. "Há alguma ideia falsa sobre a senhora?", perguntei. "Creio que a ideia mais equivocada é que sou muito séria e autoritária", respondeu. "Porque esse é o tipo de entrevista que eu fazia. Mas creio que desde "The View" as pessoas sabem que tenho senso de humor e que sou uma pessoa igual às outras."
2. Como quer ser lembrada? "Como uma boa jornalista, uma boa mãe e uma boa pessoa."
Meu tempo com ela terminava, e a honra de fazer perguntas à campeã das perguntas. Era meio-dia, mas ainda tinha um monte de coisas pendentes. Walters não dava sinais de que estava prestes a ir embora.
O que vai fazer no dia seguinte à sua aposentadoria?, consegui lhe perguntar no final. "Dormir. Vou dormir. E no dia seguinte também."
Mas tenho a suspeita de que, quando acordar, Barbara Walters voltará a fazer perguntas. Muitas perguntas.
Jorge RamosEm Nova York (EUA)
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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