Dilma Rousseff fez um pronunciamento administrativo-eleitoral. Como presidente, separou manifestante de baderneiros. Prometeu ouvir os primeiros e reprimir os segundos. Como candidata à reeleição, ela dividiu com executivos estaduais e municipais a culpa pela raiva das ruas. E insinuou que só não faz mais porque não deixam. Foi assessorada pelo jornalista e ex-ministro Franklin Martins e pelo marqueteiro João Santana.
Instituições e governos precisam mudar, reconheceu uma Dilma mais humilde do que o habitual. Por isso, vai “conversar com os chefes de outros poderes”. Deseja “somar esforços”. De resto, convidará governadores e prefeitos das principais cidades para propor “um grande pacto.”
Pacto para quê? Para fazer andar projetos que o governo já apresentou e os outros não permitiram que caminhassem: plano nacional de mobilidade urbana (depende de convênios com prefeituras), destinação de 100% dos dividendos do pré-sal para a educação (o Congresso demora-se em aprovar) e a importação de milhares de médicos do exterior para “ampliar” o atendimento do SUS (entidades de classe, congressistas e prefeitos torcem o nariz para a ideia).
No campo administrativo, a pauta de Dilma é acanhada. Não faz jus à grandiosidade da raiva insinuada na presença de mais de 1 milhão de insatisfeitos nas ruas. Na seara política, a presidente-candidata soou desconexa. Os manifestantes informaram que não toleram a corrupção, ela reconheceu, antes de acrescentar: “Todos me conhecem. Disso não abro mão.” Heim?!? Em 2011, Dilma fez a pseudofaxina. Em 2012, negociou com os ‘faxinados’ a devolução dos ministérios violados aos partidos violadores.
Em resposta ao apartidarismo dos manifestantes, Dilma disse que não há democracia sem partidos e votos. Verdade. Em seguida, declarou que é preciso “oxigenar” o sistema. Chefe de um governo fisiológico, que acaba de trocar o tempo de propaganda televisiva do PSD por uma vaga de ministro para o ex-inimigo Guilherme Afif Domingos, Dilma prometeu empenhar-se pela reforma política.
Na próxima manifestação, a rapaziada talvez grite: ‘Fala sério!’ A propósito, Dilma disse que receberá os “líderes” do movimento que encheu as ruas. Ganha um passaporte para a felicidade quem disser o nome do responsável pelos protestos que explodiram de Norte a Sul. A presidente ainda não se deu conta. Mas quem enviou os manifestantes ao meio-fio não foi um grupo de líderes, mas um sentimento.
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