domingo, 21 de abril de 2013

O Queridinho da vez

 Socorro a Eike terá gigante da Rússia, malaios e Petrobras

Em vez de cuidar da crise econômica, financeira e de tecnológica na que se encontram as pequenas e meias empresas, que geram 90% dos empregos do País, o governo Federal cuida das suas "empresas queridinhas" a VALE e as empresas do Eike Batista

Matéria da Folha. RENATA AGOSTINI DE BRASÍLIA

Petroleira Lukoil negocia compra de cerca de 40% da OGX, cujas ações acumulam desvalorização de 90% em um ano.


Empresário negocia venda de parte de campo com a Petronas por US$ 1 bi e parcerias com estatal brasileira.

O socorro ao combalido grupo X, como é conhecido o império de empresas de Eike Batista que levam por superstição a letra nos seus nomes, começará pela petroleira OGX. O plano envolve um sócio russo, a venda de ativos e parcerias com a Petrobras em novos campos de petróleo.

Segundo a Folha apurou, a empresa negocia de forma avançada com a petroleira russa Lukoil, que pretende atrair como parceira, e com a malaia Petronas, para quem deseja passar parte de campo de petróleo para fazer caixa.

Os executivos de Eike já iniciaram também conversas com a Petrobras para firmar parcerias em campos da estatal, nos quais assumiria o posto de operadora.

Iniciar o resgate do grupo pela OGX é estratégico para Eike, que está sendo assessorado pelo BTG. De suas seis empresas com ações negociadas na Bolsa, foi dela o maior tombo --queda de 90% no valor dos papéis em um ano.

A crise de confiança contaminou várias operações do grupo. Ainda assim, a OGX representa quase um terço do império X, avaliado em pouco mais de R$ 14 bilhões.

O centro da estratégia está na Lukoil. A ideia é atrair a companhia, quarta maior petroleira privada do mundo, como sócia da OGX, cedendo participação de cerca de 40% no capital total da brasileira.

A fatia, segundo executivos próximos à operação, é suficiente para que os russos possam consolidar os números da OGX em seu balanço sem que Eike perca o posto de controlador de sua petroleira, considerada a "joia da coroa" do seu grupo.

A Lukoil esquadrinha os números da OGX desde o início do ano. Para isso, foi montado um "data room" --banco de dados com informações estratégicas da companhia.

A avaliação inicial foi positiva e, há cerca de um mês, os russos contrataram o escritório brasileiro Pinheiro Guimarães para iniciar a chamada "due diligence", uma averiguação detalhada dos ativos e informações da companhia antes da aquisição.

No momento, os advogados estão debruçados sobre detalhes como obrigações trabalhistas e de conteúdo local.

LEILÃO À VISTA

A expectativa é que o negócio possa ser fechado no início de maio, a tempo da 11ª rodada de licitações para áreas de exploração de petróleo, programada para os dias 14 e 15 e que oferecerá 289 blocos.

Para a OGX, a sociedade traria musculatura --e capital-- para uma oferta mais agressiva na disputa. A empresa precisa de novas áreas após campanha exploratória com resultado abaixo do "vendido" aos investidores.

Já os russos ganhariam um valioso atalho ao mercado brasileiro, ao ter acesso a uma empresa com corpo técnico já formado e considerado de boa qualidade.

Paralelamente, os executivos de Eike negociam a venda de 40% do campo de petróleo Tubarão Martelo para a Petronas, por US$ 1 bilhão.

Segundo apurou a Folha, as negociações estão em ritmo acelerado. O diretor jurídico da OGX, José Roberto Faveret, foi a Kuala Lumpur, na sede da Petronas, negociar os termos finais da operação.

A venda do campo traria alívio imediato à OGX, dispensando Eike de capitalizar a empresa --em outubro, o empresário se comprometeu a injetar US$ 1 bilhão do próprio bolso na empresa caso o plano de negócios estivesse comprometido por falta de caixa.

Em outra frente, a OGX movimenta-se para fechar parcerias com a Petrobras em campos já em operação. As conversas já foram iniciadas, segundo executivos do grupo, que falam sob reserva.

A intenção da OGX é entrar como sócia da estatal em alguns campos, assumindo o papel de operadora.

Procurada, a petroleira de Eike se limitou a dizer, por meio de nota, que "as informações não procedem".

Colaborou MARIANNA ARAGÃO, de São Paulo

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