Começou a safra da castanha do Pará. No Acre, principal estado produtor, a coleta ajuda na renda dos pequenos agricultores.
É inverno amazônico. A época de verão para o restante do país não é considerada assim para quem vive no meio da floresta porque chove muito e o acesso por estradas fica bastante comprometido.
Para chegar à casa do agricultor José Francisco de Freitas, que mora a dez anos no lugar, a equipe de reportagem precisou seguir a pé. Ele coleta castanha e extrai borracha, produtos que geram uma renda de quase mil reais por ano. Para a alimentação da família ele mantém pequenas plantações e cria alguns animais.
“A gente produz, no caso do arroz e do feijão, para a subsistência. Chega a safra da castanha e é uma ajuda. Tem também a ajuda do gado, que a gente tem para manter a subsistência da família”, falou seu José.
O trabalho do seu José com a coleta dos ouriços de castanha começa com o preparo das ferramentas. Quase todas são feitas com materiais extraídos da própria floresta, como a fibra utilizada para fazer o balaio ou panero, como se diz pela região.
Já no meio da floresta, ele procura uma mão de onça. Mas não é do bicho onça. Ele olha para o lado, pega um galho, corta, pega mais uns galhos finos e está pronta mais uma ferramenta feita na hora.
“A gente faz a mão de onça para a colheita ouriço, de castanha”, explicou seu José.
A coleta da castanha é feita entre os meses de dezembro e março. Na última safra o seu José vendeu 52 latas do produtor, cada uma com dez quilos. A renda total foi de R$ 520. Ele recebeu pelas castanhas R$ 2,00 a mais por lata do que o preço pago no mercado. Isso porque ele participa de um programa de boas práticas, que aumenta o valor do produto.
“Amontoa e deixa amontoado por dois ou três dias no máximo. Aí tem que quebrar e levar para casa e colocar para enxugar. Depois, tem a catação da castanha para tirar todas as impurezas”, esclareceu seu José.
Outras 23 famílias fazem parte da mesma associação de extrativismo que o seu José. A castanha coletada pelos produtores vai para o novo armazém da comunidade. Além das boas práticas e da estrutura de armazenamento, a associação dos extrativistas busca a certificação internacional do produto orgânico, titulo que pode render até R$ 2,00 a mais por lata de castanha vendida.
Da comunidade a castanha é carregada diretamente para a cooperativa, que recebe quase a metade de toda a produção do Estado. O controle de qualidade, que começa na floresta, continua na cooperativa. A castanha passa por um processo de secagem e classificação. Depois de esterilizada, a casca é quebrada e a amêndoa ou a própria castanha passa por outra separação, onde são tiradas impurezas como cascas e amêndoas quebradas. Elas são colocadas ainda em estufas para mais uma secagem de 20 horas.
Depois de tudo, elas voltam para uma classificação manual e seguem para serem embaladas a vácuo, em caixas de 20 quilos cada. Na safra passada a cooperativa conseguiu negociar o produto ao preço de R$ 17 a lata. Para esta safra a expectativa é aumentar o preço.
“Nós temos uma grande perspectiva para 2010. No momento ainda não temos uma definição de preço. Mas estamos na expectativa de que vai melhorar em relação a 2009”, falou Manoel Monteiro de Oliveira, representante da Cooperacre.
O Acre é responsável por 34% da produção nacional de castanha do Pará.
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