A frente do Fórum de Florestas das Nações Unidas (UNFF), Jan McAlpine, comemora a grande atenção que as florestas estão recebendo dentro das negociações climáticas internacionais. Entre os pontos centrais que serão discutidos na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP15) em dezembro, em Copenhague, está um mecanismo de pagamento aos países em desenvolvimento para reduzirem o desmatamento e a degradação, conhecido como REDD.
Diretora do UNFF há um ano, Jan foi por onze anos conselheira sênior sobre florestas e principal negociadora do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Confira abaixo a entrevista dada com exclusividade para a CarbonoBrasil durante o Congresso Mundial de Florestas, em Buenos Aires.
CarbonoBrasil - A menos de 45 dias da COP15, qual é a sua perspectiva para o encontro?
Jan McAlpine - Primeiro, eu acho que é uma oportunidade extremamente importante para as florestas que basicamente ficavam fora do mapa, em muitas maneiras. Por todo o tempo que estou trabalhando internacionalmente pelas florestas quase nunca houve recursos para elas. Eram quantias mínimas, algum dinheiro para a plantio de florestas, mas com certeza não para o manejo sustentável. A grande oportunidade com as mudanças climáticas e a agenda do REDD é que pela primeira vez as florestas estão recebendo atenção e sua grande contribuição para a sustentabilidade é percebida.
CB - Como podemos garantir que os benefícios financeiros irão para as comunidades?
McAlpine - Como trabalho há muitos anos com governos, te digo uma coisa: governos nunca garantem nada, especialmente grupos de governos. Mas uma maneira de ter certeza que isso aconteça, e acho que o Brasil tem um bom presidente nesta área, é fazer como que isto seja parte da lei do seu país. Como o Nepal mostra, desde meados dos anos 80, manejo florestal comunitário é parte da lei deles. Mas como um próprio nepalês disse, mesmo sendo parte da lei, menos de 30% das florestas são de propriedade das comunidades. Então sempre haverá esta tensão no modo como os governantes interpretam isso.
Porém, os fundos para as propostas de carbono são um grande recurso para mostrar a contribuição das florestas e eu diria que indígenas e representantes de comunidades têm sido bem ativos no processo climático para garantir que sejam ouvidos. Não é comum ver uma experiência vívida igual a deles nesses processos.
Eu acho que para as florestas é muito bom (REDD), algumas estimativas falam que são necessários US$15 bilhões por ano e já temos o comprometimento de um país, a Noruega, com US$ 3 bilhões. É muito impressionante. Outros governos estão começando a fornecer recursos também, e esta é uma quantidade significativa de dinheiro para fazer a diferença. A pergunta então, que você fez, é como isso vai apoiar as comunidades que vivem em florestas? Eu acho que ainda teremos que continuar trabalhando nisso, porque é muito mais desafiador.
CB - A senhora acha que em Copenhague teremos uma decisão sobre o REDD ou vai levar mais tempo?
McAlpine - Eu não tenho uma bola de cristal, mas eu estou esperançosa. Eu realmente acredito que a força da Convenção do Clima da ONU nos dá uma boa oportunidade para avançarmos em Copenhague. Por isso, eu me sinto bastante positiva.
CB - A senhora acredita então que os povos indígenas e comunidades que vivem em florestas estão bem envolvidos nas discussões do REDD?
McAlpine - Eu não sei se você pode representar com precisão todas as comunidades e todas as vozes, mas é bastante significativa a extensão com que tais grupos conseguiram garantir que seus interesses estivessem na mesa e fossem considerados pelos doadores e negociadores climáticos. Definitivamente há um avanço considerável em entender os impactos das decisões sobre florestas no clima e em particular sobre os indígenas. Não sei se as comunidades locais estão incluídas de forma clara, mas os indígenas, sim.
CB- A senhora disse na sua apresentação que o mercado pode criar uma distorção para os projetos florestais. Durante a última COP (em Poznan), a senhora também comentou que “a intensificação recente de doações de investimentos em florestas para apenas mitigar o problema climático poderia significar mais distorções para as finanças em manejo sustentável”. O que você quer dizer com “distorções”?
McAlpine - Eu estava me referindo aos “cowboys do carbono”.
CB - E o que a senhora quer dizer com isso?
McAlpine - O problema é que a ênfase nos projetos climáticos tem sido em aflorestamento, reflorestamento e degradação florestal. Floresta nativa preservada é um assunto muito mais difícil: como você paga por isso, como recompensa os governos e comunidades, qualquer coisa e qualquer um para conservar a floresta. A comunidade que discute mudanças climáticas tem lidado com o problema do entendimento sobre esse assunto há décadas. Agora, com o REDD e REDD , eles estão tentando chegar a isso de alguma maneira. Mas é um assunto difícil.
O meu ponto é que se você focar apenas em aflorestamento, reflorestamento e degradação florestal, você estará lidando apenas com uma parte do quebra-cabeça. A questão é como você recompensa as pessoas que vivem na interseção no Rio Negro, no Amazonas, para eles não derrubarem as árvores? Isto é difícil. O que quero dizer sobre distorções do mercado é que se muitos investimentos forem para aflorestamento ou reflorestamento haverá um volume limitado de doadores que irá para florestas nativas que estão de pé hoje e poderá levar muito deste dinheiro para longe do manejo comunitário em florestas virgens ou intocadas. Esta é a ameaça. Existem tentativas de lidar com políticas sobre as comunidades de florestas, mas é algo que ainda não está resolvido.
(CarbonoBrasil)
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