BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evitou nesta quarta-feira alimentar a polêmica de que estaria pressionando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a adiar o julgamento do mensalão. Em palestra durante um evento sobre desenvolvimento econômico e social, Lula rebateu os críticos de seu governo e da administração Dilma Rousseff e ainda defendeu a redução da pobreza na África e na América Latina como uma forma de combater a crise financeira internacional.
Lula afirmou que a ausência de decisões políticas de líderes da União Europeia poderá deteriorar a conjuntura econômica global, acrescentando que os países ricos deveriam apostar no consumo de seus habitantes.
“Acho que, se a Europa não resolver logo seus problemas, teremos mais problemas”, discursou Lula no V Fórum Ministerial de Desenvolvimento, evento organizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento.
Lula, entretanto, provocou seus adversários. Logo que iniciou sua palestra, o ex-presidente, que recentemente tratou de um câncer na laringe, afirmou que discursaria em pé e não sentado para não dizerem que ele está doente. Destacou que muita gente gosta dele, mas ponderou que há também quem não goste. “Tenho que tomar cuidado com eles”, disse.
Segundo a revista “Veja”, Lula teria se reunido com o ministro Gilmar Mendes, do STF, no escritório do ex-ministro Nelson Jobim. No encontro, de acordo com a reportagem, Lula teria proposto que Gilmar defendesse o adiamento do julgamento do mensalão em troca de proteção na CPI do Cachoeira. Gilmar Mendes interpretou que estava sendo chantageado, pois petistas estariam espalhando boatos de que ele teria viajado em um avião particular com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) pago pelo empresário Carlos Augusto Ramos. Conhecido como Carlinhos Cachoeira, Ramos foi preso sob a acusação de chefiar um esquema ilegal de jogos de azar. Segundo a Polícia Federal, Demóstenes Torres um dos principais elos de Cachoeira no meio político.
Lula citou algumas realizações de seu governo e rebateu críticas de que os programas de transferência de renda seriam assistencialistas. Frisou ainda que seus críticos ficariam ainda mais irritados quando a redução da pobreza acabar com a oferta de empregadas domésticas. Disse ainda que, em vez de o condenarem pelo aumento de carros nas ruas, deveriam reprovar aqueles que não constroem mais ruas nas cidades.
O ex-presidente também disparou ironias contra a imprensa. Afirmou, por exemplo, que os meios de comunicação que provocaram a queda da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra nada publicaram quando a denúncia contra sua ex-auxiliar foi retirada na Justiça.
(Fernando Exman | Valor)
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