De Raul Juste Lores Revista da Folha de domingo.
De milionárias recém-saídas das compras a migrantes rurais que nunca tiveram uma tevê na vida, centenas de pessoas se reúnem todas as noites para ver um espetáculo digital em Pequim. Um telão de 250 metros de comprimento por 30 de largura, suspenso a 25 metros de altura, é a maior atração do shopping The Place. O comprimento é mais que o triplo do vão do Masp e a tela tem 7.500 m2, 25 vezes maior que o telão que passava filmes há alguns anos no Jockey em São Paulo.
A atração de 250 milhões de yuans (R$ 83 milhões) foi inaugurada há pouco mais de um ano, mas o fenômeno que ela desencadeou continua a se repetir pela capital chinesa.
Em uma cidade que não tem a menor vocação para adotar uma campanha "Cidade Limpa", telões digitais estão se espalhando por todos os lados _ de elevadores de prédios residenciais até táxis e ônibus. Um dos motivos da popularização é que das telas que utilizam módulos LED (diodos que emitem luz) às planas de cristal líquido (LCD), tudo é produzido na China.
O barateamento da tecnologia facilitou a propagação.
A grande dificuldade que existe no Brasil para alcançar modelos que sejam exemplos a inovação tecnológica é que aqui se fala muito e se faz pouco. Na academia se publica sobre ciência, tecnologia e inovação e lá fora se aplicam as experiências bem sucedidas.
O telão do The Place virou símbolo da Pequim digital. Ele vai de uma rua a outra, ocupando um quarteirão inteiro e é cercado pelas duas metades do shopping-center de cinco andares. O melhor vídeo a passar no telão reproduz em computação gráfica a vida em Pequim no século 18, intercalado com cenas de filmes de época. Muita gente aplaude as projeções.
A idéia é que ele funcione como arena no ar _ ali são exibidos de peixinhos gigantes em aquários (peça obrigatória na decoração chinesa) a planetas, estrelas cadentes, flores. O criador do telão e de boa parte das animações é o designer Jeremy Railton, nascido no Zimbábue e radicado nos EUA. Para se ter uma idéia de seu estilo, ele foi responsável pelas imagens nos telões dos últimos shows de Barbra Streisand e Cher.
Ele criou o maior telão do mundo em Las Vegas, o único maior que o de Pequim. Railton até tentou levar a empresa que o desenvolveu para a China. Não deu. "Do prefeito ao dono da construtora, reparei que havia uma pressão enorme para que a tecnologia fosse desenvolvida na China. Tivemos que desenvolver tudo lá", diz, referindo-se à longa tela coberta de vidro e aos painéis LED. Cinco telas individuais formam o comprido telão, que podem mostrar de imagens de TV a games.
No elevador
Telas digitais LCD e luminosos estão por toda a parte e se espalham mais rapidamente que as luzinhas de Natal no Brasil produzidas na China. Em Xangai, 15 mil táxis têm essas telinhas. Outros 20 mil táxis em Pequim, Guanghzou e Shenzhen já têm a novidade.
"O passageiro está sozinho e fica em média 17 minutos de monotonia sentado no banco traseiro. Ele pode ficar teclando a tela, mudando de canais, descobrindo novos produtos", diz a gerente da Touchmedia, Tina Han. Na telinha, há um cardápio com nove opções, de músicas a campanhas filantrópicas, mas, em todas, 80% do tempo será com propaganda. Há um botão de "mudo" para silenciar tanta informação.
A publicidade chinesa não perdoa nem durante o calmo trajeto no elevador. A empresa Framedia instalou 300 mil telas em elevadores de edifícios residenciais e comerciais em 40 cidades chinesas. As telas passam anúncios continuamente.
Em 1724 academias de ginástica chinesas, há telas espalhadas. "As telas se aproveitam dos momentos de solidão e tédio de muitas pessoas em elevadores ou no táxi, mas há risco de se criar uma exaustão total do receptor", diz o publicitário Jeremy Sy, da agência Leo Burnett. A prefeitura de Xangai estuda a regulamentação dos painéis. Há clientes reclamando que eles são irritantes.
Nos últimos meses, várias ruas dos bairros de Chaoyang e Sanlitun estão ganhando telões do tamanho de um ponto de ônibus, à altura do pedestre, que exibem propagandas. À noite, no frio de alguns graus negativos do inverno pequinês, pode-se se escutar os telões ecoando sozinhos enquanto ninguém se atrave a caminhar.
Os primeiros outdoors em Pequim que não tinham obrigação de passar mensagens comunistas de união proletária ou de ódio à burguesia só apareceram nos anos 80, após a abertura econômica da China. Até meados dos anos 90, boa parte das ruas e avenidas da cidade ficavam às escuras após às 22h por racionamento.
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