Recentemente, como foi comentado neste blog, a ONG IMAZON divulgou a queda do desmatamento da Amazônia em mais de 80%. No artigo abaixo do Jornal Le Monde a versão que se da é diferente. Confira.
Laurence Caramel
Melhor que qualquer discurso, um número resume a dimensão do choque ao qual se submete a Amazônia: 17% da floresta foi destruída em cinco anos, entre 2000 e 2005. É o que afirma o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA), no relatório sobre o "Meio ambiente na Amazônia", que será publicado e que provavelmente constitui o trabalho mais completo sobre o assunto em dez anos.
Essa cifra mostra a dimensão, no nível dos oito países que dividem a maior massa florestal do planeta (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela), de uma desordem que na maior parte do tempo só é percebida através do prisma do gigante brasileiro. No decorrer desse período, 857 mil quilômetros quadrados de árvores - o equivalente à superfície da Venezuela - viraram fumaça ou foram cortadas sobre uma área de 5.148 quilômetros quadrados que correspondem à definição mais rígida da Amazônia. Aquela que, segundo os especialistas, atendem aos critérios hidrográfico, ecológico e político.
A maior parte do arroteamento foi feito no Brasil, mas os outros países, com exceção do Peru e da Venezuela, também se depararam com um rápido desaparecimento da cobertura vegetal. "O avanço das frentes pioneiras na Amazônia e das transformações que elas introduzem é tão grande, que o movimento de ocupação dessas últimas 'fronteiras do planeta' parece irreversível", constatam os autores.
Por trás do desflorestamento, acontece uma grande corrida para a apropriação das gigantescas reservas de terra e matérias-primas da região. "A dinâmica econômica, em resposta à demanda dos mercados estrangeiros, alimenta uma forte pressão sobre os recursos naturais. O modelo de produção dominante, que não leva em conta nenhum critério de desenvolvimento sustentável, leva à fragmentação dos ecossistemas e à erosão da biodiversidade", eles lamentam, denunciando um sistema predatório. A exploração florestal, muitas vezes ilegal, conquista novas terras para a pecuária ou para as culturas voltadas à exportação como a soja, extração mineral e petroleira, construção de estradas e infraestruturas....
A colonização da Amazônia é acompanhada por uma multiplicação dos conflitos com as populações locais dentro de um contexto em que os direitos de propriedade continuam indefinidos. O PNUMA não condena a exploração da Amazônia somente pelo desastre ecológico ao qual ela conduz. Ele também estigmatiza um modelo de desenvolvimento deplorável do ponto de vista social, uma vez que a população - concentrada nas cidades - ultrapassa os 33 milhões de habitantes, contra 5 milhões nos anos 1970 e que aumenta mais rápido que no resto dos países da zona. "A renda per capita mostrada por certas localidades não deve mascarar uma situação geral de grande pobreza. A riqueza extraída da exploração dos recursos naturais, na maioria das vezes, não é reinvestida no local", adverte o relatório. No Equador, nas cidades petroleiras de Orellana e Sucumbíos, a renda per capita ultrapassa US$ 25 mil por ano, oito vezes mais que a média nacional, mas os indicadores de desenvolvimento humano continuam piores do que em outros lugares. O relatório também destaca o impacto da degradação do ambiente, da poluição das águas sobre o crescimento das carências alimentares ou a propagação de certas doenças como a dengue ou a malária. O desaparecimento de certas espécies, que funcionam como predadores naturais dos agentes de transmissão dessas doenças, facilita a propagação das epidemias.
Diante desse quadro devastador, existem iniciativas para introduzir um desenvolvimento mais sustentável. Mas elas permanecem em segundo plano. Os planos de desenvolvimento sustentável adotados pela maior parte do país e a classificação como zonas protegidas de cerca de 15% do território amazônico também não parecem, aos olhos do PNUMA, razões suficientes para se tranquilizar quanto ao futuro. Um futuro para o qual a instituição da ONU enxerga quatro cenários possíveis. De uma exploração controlada até o desaparecimento do paraíso verde: todas as opções são consideradas, exceto aquela que consistiria em transformar a Amazônia em uma gigantesca reserva natural.
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