quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A compostura


Governo Dilma vive agora crise de compostura




Ao render-se sem ressalvas à política do vale-tudo, instalando no Planalto um mercado de compra e venda de lealdades de última hora, Dilma Rousseff inaugurou uma nova fase do seu governo. Convivia com três crises: a econômica, a ética e a política. Fabricou uma quarta: a crise de compostura. Os aliados ainda não contemplados com verbas ou cargos exigem a sua parte. Na marra.

Antes, os governistas sonegavam votos ao governo de vez em quando. Agora, não entregam nem o quórum mínimo para o funcionamento das sessões. Pela segunda vez num intervalo de 24 horas, os deputados da coligação oficial derrubaram com sua ausência a sessão do Congresso que deveria analisar os vetos presidenciais às propostas que o Planalto chama de “bombas fiscais”.

Na véspera, o Planalto alegara que os aliados estavam em trânsito dos seus Estados para Brasília. Hoje, com mais de 400 deputados presentes no prédio da Câmara, ficou entendido que a ausência em plenário destina-se mesmo a chantagear a presidente da República.

Horas antes, Dilma fazia pose numa entrevista a rádios da Bahia. “O Congresso vai reafirmar seu compromisso com o Brasil. É importante que as pessoas coloquem os interesses do país acima dos interesses pessoais ou partidários.'' No Congresso, os aliados de Dilma, que sabem o que ela fez na semana passada, ouviram um aviso automático que vem do fundo de suas consciências: “Farsante!”

No primeiro mandato, período em ensaiou o papel de faxineira, Dilma comportava-se como uma governante realista lidando com uma classe política viciada. Adotava os seus meios para fins nobres. No processo atual, o único fim é evitar que seu mandato chegue prematuramente ao fim. Sumiram as últimas noções de racato.

Dilma negociou a Saúde e a Ciência e Tecnologia com o líder do PMDB, Leonardo Picciani, um eleitor de Aécio Neves, à luz do dia, na frente das crianças. Sentindo-se preteridos, partidos como PP, PR, PTB e assemelhados tomaram distância do PMDB e exigem a abertura um guichê próprio. Cada deputado é líder de si mesmo. Vem aí o festival do segundo e do terceiro escalão. Eduardo Cunha, como um Nero brasiliense, gargalha em meio às chamas.

Se quisesse, a oposição poderia registrar presença em plenário, dando quórum para que o Congresso confirmasse os vetos de Dilma. Mas os antagonistas da presidente decidiram prolongar a agonia do governo. Logo, logo haverá quórum. Agachado, o governo barganhará o impensável com seus aliados. Já se ouve ao fundo o tilintar de verbas e cargos. Perdeu-se a compostura. O governo está de cócoras.

Josias de Souza

sábado, 3 de outubro de 2015

Belém é a 7ª capital em ranking nacional de assassinatos

Capitais do país tiveram quase dois assassinatos por hora em 2014



Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 15.932 pessoas foram assassinadas nas 27 capitais do Brasil em 2014. A marca representa 43,6 assassinatos por dia e 1,8 por hora.

Houve uma pequena redução de 0,1% em relação a 2013, quando 15.804 morreram assassinadas nas capitais. Na média dessas 27 cidades, a quantidade de vítimas por cem mil habitantes permaneceu em 33, índice que puxa para cima a média do país.

A taxa média nacional foi de 25,2 assassinatos a cada cem mil habitantes em 2013. Os dados nacionais de 2014 ainda estão em fase de tabulação.

O estudo leva em consideração todos os crimes violentos letais intencionais, o que inclui os homicídios, os latrocínios e as lesões corporais seguidas de morte.

O Fórum requisitou os dados às secretariais de Segurança Pública e Defesa Social dos governos estaduais e do Distrito Federal com base na Lei de Acesso à Informação e cruzou as estatísticas com informações disponibilizadas pelas mesmas secretarias em suas páginas na internet.

O trabalho faz parte do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Criado em 2006, o Fórum é uma organização não-governamental.
Nordeste mais violento

Todas as seis capitais mais violentas do país são do Nordeste: Fortaleza, Maceió, São Luís, Natal, João Pessoa e Teresina. Na lista das dez mais, oito são nordestinas. O Recife é a única capital da região fora desse rol.

Fortaleza chegou ao posto de capital mais violenta mesmo com uma redução de 1% em relação ao índice do ano anterior. Isso porque Maceió, que teve a taxa mais alta em 2013, apresentou uma diminuição ainda maior, de 14,5%. A capital cearense ficou com uma taxa de 77,3 assassinatos por cem mil habitantes em 2014; na capital alagoana, foram 69,5.

Das dez capitais mais violentas, sete apresentaram reduções. A de Maceió foi a mais substancial. Ainda nessa lista, Teresina teve alta mais forte, de 33,7%, o que fez a taxa da capital do Piauí pular de 39,7 assassinatos por cem mil habitantes para 53,1







Centro-Oeste e Norte

Alta maior que a de Teresina só a de Campo Grande, onde o índice subiu 36,5%, saltando de 13,8 para 18,9. Com isso, a capital de Mato Grosso do Sul perdeu o posto de segunda capital menos violenta do Brasil – foi para o quarto lugar.

Campo Grande conseguiu conservar, porém, a posição de capital menos violenta do Centro-Oeste. Brasília, capital federal, é a sexta menos violenta do Brasil, com a taxa de 25,8.

A mais violenta da região Centro-Oeste é Cuiabá, com uma taxa de 47,4 assassinatos por cem mil habitantes, o nono índice mais alto do país.

A capital mais violenta do país, fora as do Nordeste, é Belém, sétima na classificação nacional, com 51,2 vítimas de crimes violentos letais intencionais. No Norte, a situação da capital paraense contrasta com Boa Vista, a menos violenta da região e a terceira menos violenta do país. A capital de Roraima apresentou a maior redução do país. Seu índice caiu de 23,3 para 17,5, uma baixa de 25%.
Sul e Sudeste

Entre as capitais do Sul e do Sudeste, Porto Alegre e Vitória apresentaram os índices mais elevados. A capital gaúcha foi a 13ª capital mais violenta do país, com uma taxa de 40,6 assassinatos por cem mil habitantes, um posto acima da capital capixaba, que teve uma taxa de 38,3.

Em Vitória e nas três capitais do Sul, os índices subiram na comparação com 2013.Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo apresentaram reduções.

Na capital mineira, a nona menos violenta do país, a taxa caiu 11,2% e ficou em 30,8 assassinatos por cem mil habitantes. O Rio ocupa a posição de quinta menos violenta, com taxa de 20,2, uma baixa de 6,4% na comparação com o ano anterior.

São Paulo manteve o posto de capital com menos assassinatos do Brasil em termos proporcionais: foram 11,4 por cem mil habitantes, uma baixa de 4,3% em relação a 2014.
Estados elevam investimentos; União diminui

De acordo com o Fórum Brasileiro, os governos dos Estados e do Distrito Federaltêm aumentado os investimentos em segurança pública. As despesas das 27 unidades da federação nessa área chegaram a R$ 67,4 bilhões em 2014, um crescimento de 17,1% na comparação com o ano anterior.

Somente três Estados reduziram os gastos com a segurança pública no ano passado: Piauí (-37,6%), Mato Grosso (-2%), e Tocantins (-0,9%). Os três que mais elevaram foram Minas Gerais (69,5%), Goiás (42,1%) e Roraima (33,4%).

A alta em Minas se deve em grande parte à inclusão dos gastos com a previdência dos aposentados do setor.

Na soma das 27 unidades, as despesas com informação e inteligência também subiram em 2014, mas não na mesma proporção que o volume total da segurança pública. O investimento foi de R$ 1,2 bilhão, o que representa uma alta de somente 2,7% em relação a 2013.

Pelo segundo ano seguido, a União reduziu as despesas com segurança pública. Os investimentos do governo federal no setor caíram 2,6%, passando de R$ 8,7 bilhões em 2013 para R$ 8,1 bilhões no ano passado. Os gastos com informação e inteligência caíram mais (-4,1%) e ficaram em R$ 465 milhões.