domingo, 20 de setembro de 2015

Ela é simplesmente uma trapalhona.Delfim Neto

Admitiu ter votado nela. Mas disse que não repetiria o gesto




Em entrevista à repórter Eliane Cantanhêde, veiculada no Estadão, o ex-ministro e ex-deputado federal Delfim Netto, 87, emitiu opiniões corrosivas sobre Dilma Rousseff. Admitiu ter votado nela. Mas disse que não repetiria o gesto. Considera a presidente “absolutamente honesta''. Mas fulmina o mito da gerentona: “…Ela é simplesmente uma trapalhona.”

Delfim referiu-se à decisão do governo de enviar ao Congresso um orçamento deficitário para 2016 como “a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil”. Vão abaixo algumas das declarações do economista:



— Dilma X Ex-Dilma: […] As pessoas sabem que a presidente é uma mulher com espírito muito forte, com vontades muito duras, e ela nunca explicou porque ela deu aquela conversão na estrada de Damasco. Ela deveria ter ido à televisão, já no primeiro momento, e dizer: “Errei. Achei que o modelo que nós tínhamos ia dar certo e não deu”. Mas, não. Ela mudou sem avisar e sem explicar nada para ninguém. Como confiar?

— Direção do vento: Ela mudou um programa econômico extremamente defeituoso, que foi usado para se reeleger. Em 2011, a Dilma fez um ajuste importante, aprovou a previdência do funcionalismo público, o PIB cresceu praticamente no nível do Lula. Mas o vento que era de cauda e que ajudou muito o Lula tinha mudado e virado um vento de frente. […] Então, ela foi confrontada em 2012 com essa mudança e com a expectativa de que a inflação ia aumentar e o crescimento ia diminuir e ela alterou tudo. Passou para uma política voluntarista, intervencionista, foi pondo a mão numa coisa, noutra, noutra, noutra… Aquilo tudo foi minando a confiança do mundo empresarial e, de 2012 a 2014, o crescimento vai diminuindo, murchando.

— Efeito urna: A tragédia, na verdade, foi 2014, porque ela [Dilma] usou um axioma da política, que diz que ‘o primeiro dever do poder é continuar poder’. No momento em que ela assumiu isso, ela passou a insistir nos seus equívocos. Aliás, contra o seu ministro da Fazenda, o Guido Mantega, que tinha preparado a mudança, tanto que as primeiras medidas anunciadas pelo Joaquim Levy já estavam prontas, tinham sido feitas pelo Guido. […] O Guido não tem culpa nenhuma. E, para falar a verdade, nenhum ministro da Fazenda da Dilma tem culpa nenhuma, porque o ministro da Fazenda é a Dilma, é ela. E o custo da eleição é o grande desequilíbrio de 2014.

— Déficit de credibilidade: Como a credibilidade do governo é muito baixa, o ajuste que ele [Joaquim Levy] fez encontrou muitas dificuldades, não teve sucesso porque não foi possível dizer que o ajuste era simplesmente uma ponte.

— Barbeiragem histórica: O primeiro equívoco mortal foi encaminhar para o Congresso uma proposta de Orçamento com déficit. Foi a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil. A interpretação do mercado foi a seguinte: o governo jogou a toalha, abriu mão de sua responsabilidade, é impotente, então, seja o que Deus quiser, o Congresso que se vire aí.

— Governo Frankenstein: A briga interna ocorre em qualquer governo, mas o presidente tem de ter uma coisa muito clara: ele opta por um e manda o outro embora. Um governo não pode ter dentro de si essas contradições, senão vira um Frankenstein. […] Quem tem de sair [Levy, Nelson Barbosa ou Aloizio Mercadante?] é problema da Dilma, mas quem assessorou isso do Orçamento com déficit levou o governo a uma decisão extremamente perigosa e desmoralizadora. E isso produziu um efeito devastador.

— Corte na carne dos outros: O aumento da Cide seria infinitamente melhor. CPMF é um imposto cumulativo, regressivo, inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento e quem paga é o pobre mesmo. Ele está sendo usado porque o programa do governo é uma fraude, um truque, uma decepção – não tem corte nenhum, só substituição de uma despesa por outra e o que parece corte é verba cortada do outro. Dizem que vão usar a verba do sistema S. Ora, meu Deus do céu! R$ 1 do sistema S produz infinitamente mais do que R$ 1 na mão do governo. Alguém duvida de que o governo é ineficiente?

— Cobra mordendo o rabo: Eles vão ter de negociar [o pacote fiscal] com a CUT e com o PT, que é o verdadeiro sindicato do funcionalismo público. Então, é quase inconcebível e vai ter uma greve geral que vai reduzir ainda mais a receita. É uma cobra que mordeu o rabo. O aumento de imposto é 55% do programa; o corte, se você acreditar que há corte, é de 19%; e a substituição interna representa 26%. Ou seja, para cada real que o governo finge que vai economizar com salários, ele quer receber R$ 3 com as transferências e o aumento de imposto. No fundo, o esforço é nulo.

— Em quem votou? Na Dilma. Mas acho que o Aécio era perfeitamente ‘servível’. Teria as mesmas dificuldades que a Dilma enfrenta, porque consertar esse negócio que está aí não é uma coisa simples para ninguém, mas ele entraria com uma outra concepção de mundo, faria um ajuste com muito menos custo e a recuperação do crescimento teria sido muito mais rápida.

— Votaria de novo? Não, primeiro porque ela não pode ser candidata. É preciso dizer que eu acho a Dilma absolutamente honesta, com absoluta honestidade de propósito, e que ela é simplesmente uma trapalhona.

— Michel Temer seguraria o rojão? Acho que sim. Nós somos muito amigos. O Temer tem qualidades, é uma pessoa extraordinária, um gentleman e um sujeito ponderado, tem tudo, mas eu refugo essa hipótese enquanto não houver provas [contra Dilma], e vou te dizer: ele também.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Energia e mineração, regime perverso


O governador afirmou que o regime fiscal nos setores da energia e minério, é “perverso” para os Estados produtores, embora estratégico e benéfico para o Brasil. 


Em uma conversa franca com técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), nesta quinta-feira (17), no auditório do órgão, o governador Simão Jatene fez uma análise do atual cenário do país e falou sobre os desafios que a gestão pública tem para conseguir superar a série de entraves econômicos e fiscais que hoje estão postos, seja para a União, seja para os Estados e municípios. O debate fez parte do projeto “Sexta da Integração”, que todo mês convida alguma autoridade dos órgãos jurisdicionados pelo TCE.

“Só vamos conseguir caminhar na direção que a sociedade aspira quando entendermos que precisamos estar juntos no esforço de dar densidade a algo que chamo de capital único, que nada mais é do que o conjunto de valores que definem como uma sociedade vive. Essa é a pior crise dos últimos 23 anos, porque além de econômica e fiscal, ela também é política e moral. Estou absolutamente convencido de que nosso maior desafio é repensarmos e discutirmos sobre direitos e deveres. Precisamos recuperar, antes de tudo, nossos valores que foram perdidos nas más práticas de gestão e de governo”, defendeu Simão Jatene.

O governador criticou ainda a forma como questões importantes para o país vêm sendo tratadas pelos partidos de forma geral. Com exemplo, Jatene citou a discussão pela nova alíquota da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e reiterou que não concorda com a forma de condução nas negociações. “Parece que no final das contas é cada um querendo se salvar e querendo garantir a sua parte do bolo, mas a questão é não como que partidos, empresas ou governos se salvam, e sim como que o país se salva. E para isso, qualquer tipo de ajuste não pode ser apenas mais um, ele tem que ser capaz de nos aproximar do caminho que queremos”, afirmou.

Reduções – Ao falar sobre a situação do Pará diante da crise, Simão Jatene ressaltou que o Estado não está isento dos efeitos causados pela recessão e que, apesar de conseguir apresentar resultados acima dos nacionais e da maioria dos Estados brasileiros, vem sofrendo cortes ao longo dos anos que tiveram que ser superados pelo desempenho da receita própria. Com dados, o governador demonstrou que o aumento na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) foi decisivo para manter o equilíbrio das contas do Estado e dos municípios, diante da instabilidade das receitas transferidas.

O governador informou que, entre 2008 e 2012, R$ 190 bilhões deixaram de ser distribuídos pela União aos fundos federais em função da desoneração fiscal. Fora as reduções nas transferências do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Além disso, o Fundo de Estímulo à Exportação (FEX) também deixou de ser transferido em 2014, o que gerou um déficit de mais R$ 1,9 bilhão aos Estados. “Para se ter uma ideia de como a crise avança, prefeitos de dezenas de municípios paraenses informam que não receberam o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) este mês”, acrescentou.

Mudanças – Ao final do encontro, Jatene propôs mudar o quadro a partir de um novo olhar sobre o modelo tributário incidente sob as matizes econômicas, especialmente energia e minério, cujo regime fiscal, na avaliação do governador, é “perverso” para os Estados produtores, embora estratégico e benéfico para o Brasil. Para o governador, a crise oportuniza mudanças profundas que, a cada dia, são mais necessárias, devido ao esgarçamento do pacto federativo, que o longo dos anos tem punido os Estados exportadores ao não gerar recompensas. Em contrapartida, esses estados contribuem significativamente para o equilíbrio da balança comercial.

O governador lembrou que em 1939, mesmo após a grande crise da borracha, o Pará ocupava o sétimo lugar no ranking de Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil. Sete décadas depois de exploração dos recursos naturais, especialmente de minério e dos recursos hídricos, o Estado está no 22° lugar. “A verdade é que temos ajudado a financiar o país às custas da nossa pobreza. Quando comparamos os dados, vemos que a exploração dos nossos recursos ao longo desse tempo é proporcional a queda da nossa renda per capita. Isso foi necessário para o país por um tempo, mas ainda hoje continuamos a não sermos recompensados”, frisou.

Diálogo – O presidente do TCE, Luís Cunha, destacou o caráter técnico do encontro. “Há oito anos iniciamos a nossa caminhada no sentido de nos aproximarmos dos nossos jurisdicionados e da sociedade em geral. Esse projeto é, sem dúvida, mais um grande avanço neste sentido. Acredito esse encontro nada mais é do que uma reunião de trabalho e, justamente por isso, é muito gratificante que o governador tenha aceitado de pronto o convite. É a primeira vez que vejo a autoridade máxima do Estado vim até a nossa sede para este tipo de conversa e não para alguma solenidade. Apesar de novo, acredito que chegamos ao ápice do que imaginamos para o projeto”, disse.

O governador fez questão de agradecer pelo convite do tribunal. “Somos todos seres humanos e sei que erramos, mas quero pedir a ajuda de vocês para que possamos caminhar no sentido certo. Não estamos condenados nessa crise, mas é preciso um esforço coletivo. A sociedade não aceita mais financiar um país quebrado, que corresponde com uma prestação de serviços que não atende as próprias expectativas da sociedade. Por isso, nos ajudem a não errar e a lutarmos pelas grandes causas do Brasil e do Pará”, finalizou Jatene.

Amanda Engelke
Secretaria de Estado de Comunicação
Da Redação
Agência Pará de Notícias
Atualizado em 17/09/2015 16:30:00