quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mitos da austeridade

PAUL KRUGMAN – O GLOBO

Quando eu era jovem e ingênuo, acreditava que pessoas importantes tomavam decisões baseadas em cuidadosa consideração das opções. Sei mais hoje. Muito do que as pessoas sérias acreditam se baseia em preconceito, não em análise.

E esses preconceitos são sujeitos a manias e modas. O que me traz ao assunto desta coluna. Nos últimos meses, temos assistido, com espanto e horror, à emergência em círculos políticos de um consenso em favor de imediata austeridade fiscal. Isto é, de alguma forma tornou-se senso comum que agora é tempo de cortar gastos, apesar de as principais economias mundiais permanecerem profundamente deprimidas. Esse senso comum não se baseia em evidência ou análise cuidadosa.

Em vez disso, repousa no que poderíamos caridosamente chamar de completa especulação, e menos caridosamente, de fábula na imaginação da elite política — especificamente, na crença no que passei a chamar de “vigilante invisível de títulos” e de “confiança imaginária”. Os vigilantes de títulos são investidores que tiram da tomada governos que percebem ser incapazes de pagar suas dívidas.

Não há mais dúvida de que países podem entrar em crise de confiança (veja a Grécia). Mas o que os advogados da austeridade argumentam é que: a) os vigilantes de títulos estão para atacar os EUA, e b) gastar qualquer coisa a mais em estímulo à economia vai fazer com que ataquem.

Que razão temos para acreditar que algo disso seja verdadeiro? Sim, os EUA têm problemas orçamentários de longo prazo, mas o que fizermos para estimular a economia nos próximos dois anos não terá quase impacto sobre nossa capacidade de lidar com esse problema. Conforme Douglas Elmendorf, diretor do Escritório Orçamentário do Congresso, disse recentemente, “não há contradição intrínseca entre prover estímulo adicional hoje, enquanto o desemprego é elevado e muitas fábricas e escritórios estão subutilizados, e adotar restrições fiscais vários anos mais tarde, quando a produção e o emprego estiverem provavelmente perto de seu potencial”.

Apesar de tudo, quase a cada mês somos informados que os vigilantes dos títulos chegaram e que precisamos impor austeridade agora, agora e agora, para aplacá-los. Há três meses, uma leve alta nos juros de longo prazo foi recebida com algo próximo da histeria: “Temor sobre dívida faz juros subirem”, foi a manchete do “Wall Street Journal”, embora não houvesse prova real de tais preocupações, e Alan Greenspan tenha considerado a alta um “canário na mina”.

Desde então, os juros de longo prazo caíram. Longe de fugirem dos títulos da dívida americana, os investidores evidentemente os veem como a aposta mais segura numa economia cambaleante. Ainda assim, os defensores da austeridade continuam garantindo que os vigilantes dos títulos vão atacar a qualquer momento se não cortarmos os gastos imediatamente. Mas não se preocupe: corte de gastos pode doer, mas a confiança imaginária levará a dor embora. “A ideia de que medidas de austeridade possam provocar estagnação é incorreta”, disse Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, recentemente. Por quê? Porque “medidas que aumentem a confiança vão ajudar, e não pre judicar, a recuperação da economia”.

Qual é a base para a crença de que a contração fiscal é de fato expansionista porque aumenta a confiança? (Por falar nisso, esta é precisamente a doutrina exposta por Herbert Hoover, em 1932.) Bem, houve casos históricos de cortes de gastos e aumento de impostos seguidos de crescimento econômico. Mas, tanto quanto eu possa afirmar, cada um desses exemplos prova, num exame mais cuidadoso, que os efeitos negativos da austeridade foram ofuscados por outros fatores, de pouca relevância hoje. Por exemplo, a era de austeridade com crescimento na Irlanda, nos anos 80, dependeu de uma drástica inversão de déficit para superávit comercial, estratégia que não pode ser adotada por todos ao mesmo tempo.

Os atuais exemplos de austeridade são tudo, menos encorajadores. A Irlanda foi um bom soldado nesta crise, implementando cortes de gastos selvagens. Sua recompensa foi um tombo em nível de Depressão — e os mercados financeiros continuam a tratar o caso como um sério risco de calote. Outros bons soldados, como Letônia e Estônia, foram ainda mais longe nas medidas restritivas — e, acredite ou não, sofreram tombos maiores em produção e emprego do que a Islândia, que foi forçada, pela escala de sua crise, a adotar medidas menos ortodoxas. Desta forma, da próxima vez que você ouvir pessoas sérias explicando a necessidade de austeridade fiscal, tente analisar seu argumento.

Quase certamente, descobrirá que o que soa como realismo repousa numa fantasia, na crença de que os vigilantes invisíveis vão nos punir se formos maus e a confiança imaginária vai nos recompensar se formos bons. E a política do mundo real — que prejudicará as vidas de milhões de famílias de trabalhadores — está sendo feita sobre essa fundação. Somos advertidos que os “vigilantes invisíveis de títulos” preparam ataque aos EUA

terça-feira, 27 de julho de 2010

Eleições 2010 - Pará - Agenda dos candidatos ao Governo do Estado, Quarta feira 28

Agenda dos candidatos para esta quarta-feira

Domingos Juvenil (PMDB)
Reúne-se com a assessoria de campanha durante o dia , à noite, participa de carreata e comício na cidade de Castanhal.

Fernando Carneiro (PSOL)
Às 9h, caminhada no bairro do Jurunas, em Belém. À noite, às 20h o candidato vai prestigiar as eliminatórias do II Festival de Música Popular Paraense, em Belém.

Ana Júlia (Coligação Frente Popular Acelera Pará/ PT, PTB, PR, PP, PSC, PHS, PTN, PT do B e PTC, por PDT, PSB, PC do B, PRB e PV)
À partir de 9 horas, caminhada pelo bairro da Terra Firme. No final da tarde, às 17horas, Ana Júlia vai ao bairro de Canudos.

Simão Jatene (coligação Juntos com o Povo/ PPS, PMN, PRP, PSDC e PRTB)
Pela manhã, participa de reuniões com líderes políticos de Bragança e Castanhal. À tarde, reúne-se com onze pastores de diferentes denominações evangélicas. às 18:28:00 Postado por RS 0 comentários

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eleições 2010 - Veja a Campanha à presidência do Brasil - Aguardem, em outras postagens seguem as campanhas do Pará.

Dilma Rousseff (PT) Coladinhos os dois que estão na frente José Serra (PSDB). Marina Silva (PV)

Esporte - Parabens pela indicação do Ganso

O Prédio onde Ganso Mora, em Belém. Bonita vista.




domingo, 25 de julho de 2010

Internacional - Diga ao Fidel que o amo.....Diego (Maradona)


O Treinador do futebol da Argentina , Diego Armando Maradona, enviou Seu amigo Uma Mensagem ao e líder cubano Fidel Castro, dizendo que Ele ama "e "amor" para ver ao visitar Cuba MÊS VOCÊ los um, ou um sábado, informou DECISÃO Neste site
Cubadebate.

"Eu diga ou amor Fidel ", em Maradona SUA Mensagem postada Chamou Através do portal digital ou não Qual o ex-presidente cubano cerca de 84 anos e é em julho capaz de fazer aposentou 2006 Uma Doença , artigos de Publicou notícias.

Maradona, que enfrentam o tratamento Uma visita à Venezuela do presidente Hugo Chávez " vai viajar para Havana, em 30 dias e , obviamente, gostariam de ver Fidel ", ou portal. Durante Uma quinta - feira com Chávez Reunião Palácio de Miraflores , ou o ídolo argentino que Tinha visto Disse nd Televisão Castro Muito lúcido, Muito Bem eles ou contra quem você American Quereme morto Quereme ver o quê. " Ou isso ou Jogador acrescentou o líder Cuba " está vivo e me encarar Muito bem . "


Veja Uma Matéria completa no " El Mercurio "do Chile

 Aqui

Economia - Pará, produção mineral dobra em dois anos, mas sem valor agregado

O  Pará segue sendo uma economia exportadora de matéria prima, assim tem sido desde o Século IX, nada mudou, só matéria prima sem valor agregado, sem internalizar os lucros das exportações dos recursos naturais.

Ainda se pensa que os recursos naturais são infinitos e não esgotáveis e que dependem do mercado, isso é economia neoclassica, que privelegia a análise de mercado no seu processo produtivo.
A pergunta é quem paga os efeitos e externalidades negativas da exploração dos recursos?.

Veja a matéria do Diário do Pará.

A produção mineral do Pará alcançou no ano passado o valor geral de comercialização de R$ 11,656 bilhões. Na comparação com o ano anterior, houve um ligeiro decréscimo, da ordem de 5,95%. Em 2008, o valor geral de comercialização alcançara a casa R$ 12,394 bilhões, de acordo com dados fornecidos pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia.


Em 2008, ano da crise financeira global, as vendas não foram afetadas porque estavam em vigor os contratos de fornecimento firmados com antecedência. O efeito da crise se fez sentir no ano seguinte, com a queda observada no valor de comercialização das nossas commodities minerais. Esta é a explicação fornecida pelos técnicos do DNPM para o recuo de quase 6% observado no movimento financeiro de 2009.


Do total comercializado pelo Estado do Pará no ano passado, a maior parte – R$ 8,056 bilhões, o equivalente a 69% –, corresponde ao minério de ferro. Outros dois minerais com participação expressiva na receita do setor são a bauxita, com receita de R$ 1,361 bilhão (12% do total), e o cobre, cujo valor de comercialização alcançou R$ 1,069 (9%). O levantamento do DNPM mostra que os três produtos – ferro, bauxita e cobre – respondem, somados, por 90% do valor gerado pela comercialização de minérios em 2009.


De acordo com o economista André Luiz Santana, da Superintendência local do DNPM, o valor da produção mineral paraense quase que duplicou em apenas cinco anos, considerando-se o período de 2005 a 2009. Mantendo trajetória ascendente, ele saiu de R$ 6,553 bilhões em 2005 para R$ 7,724 bilhões em 2006 e chegou a R$ 8,301 bilhões em 2007. Em 2008, mesmo com a crise econômica mundial pelo meio, o valor da produção mineral do Pará alcançou o recorde histórico de R$ 12,394 bilhões.

Veja a matéria completa no Diário do Pará. AQUI

Gostaria que o nosso amigo andré fosse menos ufanista com relação à economia paraense. Ele precisa ler algo sobre a teoria da Maldição dos Recursos. Cómo transformar os Recursos Naturais em uma Bênção em vez de uma Maldição.

Recomendo!

Muitos países ricos em recursos naturais exploram e desperdiçam esses bens para enriquecer uma minoria enquanto a corrupção e o má administração empobrecem a maioria da população.

Romper este padrão é difícil. Devido à riqueza de recursos naturais, tais países não precisam tomar empréstimos de agências multilaterais, as quais insistem na transparência fiscal e em boas práticas orçamentárias.

As mais importantes democracias do mundo dependem da importação de petróleo, gás natural, ou minerais, e freqüentemente demonstram pouca disposição para utilizar pressões diplomáticas com o objetido de exigir melhores práticas fiscais dos países ricos em recursos naturais. Por sua vez, é pouco provável que as companhias de energia multinacionais, que dependem do bom relacionamento com os governos detentores de riquezas naturais para que possam continuar a extrair recursos, exijam desses governos uma boa gestão econômica.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Qualidade de vida - Informe PNUD revela Índices de Desenvolvimento Humano dos países da América Latina e o Caribe




Meio ambiente - Satélite aponta redução de 47% no desmate da Amazônia

Dados de satélite sinalizam que o desmatamento na Amazônia pode ter uma redução grande neste ano. Entre agosto de 2009 e maio de 2010, 1.567 km2 foram desmatados – uma redução de 47% em comparação com o período 2008/2009 (2.960 km2).

Esses números do Deter, o sistema de detecção em tempo real do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), porém, não são completos. Têm de ser confirmados pelo Prodes, o sistema mais preciso usado pelos pesquisadores do instituto.

Por não ser em tempo real, porém, o Prodes não aponta com agilidade novos focos de desmatamento para o Ibama. Ainda tem dados de 2010. O Deter, mesmo sendo ágil, sofre com a cobertura de nuvens (o Prodes fotografa só durante a seca), que varia mês a mês, barrando a visão dos satélites e tornando difícil estabelecer boas tendências de desmatamento. Nos últimos meses, Estados campeões de desmate, como o Pará, estavam encobertos.

Os números acima também não incluem junho e julho, em que tradicionalmente se desmata muito. Além disso, há um limitação de resolução do Deter, que só identifica desmates maiores do que 25 hectares (o Prodes vê áreas de até seis). Segundo Dalton Valeriano, que coordena os dois programas dentro do Inpe, como a proporção de desmatamentos grandes está diminuindo na Amazônia, é natural que os números do Deter encolham. Afirmar que o país está desmatando menos ainda é mera “especulação”, diz. “Hoje, o desmatamento pequeno representa até 60% do total. É muito mais fácil fiscalizar os grandes.” Em 2009, o Deter apontou cerca de 3 mil km2 de desmatamento na Amazônia. O Prodes encontrou 7.500 km2.

(Fonte: Ricardo Mioto/ Folha.com)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Economia - Como combatir a inflação sem produzir efeitos perversos...

Combate à inflação

(*) Amir Khair

O debate sobre cenário inflacionário deste ano está polarizado entre os que acham que a inflação vai subir devido ao superaquecimento da demanda e os que atribuem pressão inflacionária atípica por fatores estranhos à demanda no primeiro trimestre. Parece que a razão pende cada vez mais para a tese da atipicidade e, assim, as elevações da Selic não se justificariam, e os R$ 15 bilhões a serem gastos com a elevação da Selic neste ano seriam pagos indevidamente pelos contribuintes. Vamos aguardar. Desde 1945 até 1980 a inflação média anual medida pelo IGP-DI e IPC-Fipe foi de 31,7% e só em três anos ficou abaixo de 10%.

Entre 1983 e 1994, esteve acima de 100%, com média anual ao nível de 600%. O auge foi em 1993 com 2400%, ou 1% ao dia! O Plano Real, a partir de julho de 1994, sustou o processo inflacionário. Decorridos 16 anos, a inflação média anual caiu para 9,1% de 1995 a 2002 e 5,7% de 2003 a 2010, admitindo as previsões deste ano. São níveis compatíveis com os países emergentes, mas acima dos desenvolvidos, com 2%. Importa reduzir mais ainda nossa inflação.

Todos saem ganhando, especialmente a população de baixa renda. Com o avanço da globalização a concorrência aumentou e impôs redução na inflação dos países emergentes. Na década de 80 a média anual foi de 37%, na de 90 de 17% e de 2001 a 2009 de 7%. Em economias abertas a empresa não consegue impor seu preço ao mercado, à exceção dos monopólios, como no caso do minério de ferro no País. Nesses casos é necessário o controle de preços para não elevar a inflação e contaminar a economia. Isso ainda não está ocorrendo na forma desejável no Brasil.

No interesse geral, a forma de combate à inflação merece ser mais debatida. Fora o controle de preços sobre os monopólios, eis algumas questões para reflexão: 1) responsabilidade pela inflação; 2) inflação que independe do Banco Central (BC); 3) influência do crescimento na inflação; 4) a relação Selic e inflação.

1) Responsabilidade pela inflação – se for só do BC, ele deve dispor de todos os instrumentos para isso: possuir independência formal, influir sobre a demanda (das famílias e do governo), os meios de pagamento, o depósito compulsório e o câmbio.

Nessa hipótese ocorre a predominância da política monetária sobre a fiscal e o nível de despesas do governo fica dependente da orientação do BC. Se a responsabilidade for do governo, o BC atuaria como integrante da formulação e do processo decisional da equipe econômica. Entre essas opções, creio que a política econômica perde eficácia quando não são integradas as decisões que afetam as principais variáveis macroeconômicas, pois há forte inter-relação entre elas. Caso contrário, corre-se o risco de formar, em ocasiões críticas, um verdadeiro cabo de guerra, onde a política fiscal puxa para um lado e a monetária para o outro.

2) Inflação que independe do BC – preços de alimentos, commodities, preços administrados, preços internacionais, oferta de crédito, massa salarial, etc. Representam mais de 70% no peso da inflação, reduzindo a eficácia da política monetária e tornando precárias suas projeções de inflação. Assim, deixar o controle inflacionário à exclusiva responsabilidade do BC não parece ser a melhor estratégia. Isso reforça a opção de se usar políticas econômicas integradas, sob responsabilidade do governo, para permitir resultados mais efetivos de redução da inflação.

3) Influência do crescimento na inflação – várias análises defendem a oposição entre crescimento e inflação. Se ocorre crescimento forte da produção, acendem as luzes vermelhas do BC, que eleva os juros. Deveria ser o contrário, pois mais produção significa maior oferta de bens e serviços, pressionando os preços para baixo. Se o crescimento vem puxado pela expansão da demanda, essas análises usam como argumento para contê-la, a elevação dos juros, usando como justificativa velhos conceitos, como produto potencial, taxa de juros de equilíbrio, taxa mínima de desemprego e nível máximo de utilização da capacidade instalada. O pressuposto desses conceitos é que o atendimento à demanda é feito exclusivamente pelas empresas locais, sem contribuição da importação. Assim, perdem significado, especialmente em contexto de forte oferta internacional, como agora.
A partir de 2004, quando a economia pode experimentar níveis maiores de crescimento a inflação ficou sempre abaixo de 7%, com média de 5,1%. A lógica parece estar no fato de ocorrer redução na participação dos custos fixos nas empresas quando há maior produção. Ou seja, para uma mesma margem de lucro, é possível adotar preços mais baixos. Por outro lado, inflação baixa eleva o poder aquisitivo, ampliando a demanda e o crescimento. Assim, não parece haver conflito entre crescimento econômico mais robusto e inflação, e a política econômica adequada seria de estímulo à produção (ampliação da oferta) como melhor arma para o controle inflacionário.

4) A relação Selic e inflação – o uso da Selic como principal instrumento de controle inflacionário pelo BC é problemático. Seu nível historicamente elevado atua como desestímulo à oferta, sem afetar a demanda das famílias e aumenta a demanda do governo. O desestímulo à oferta ocorre pela decisão empresarial de preferir aplicar seus recursos em títulos federais, com bons lucros, sem risco e liquidez imediata, ao invés de arriscar em investimentos na produção.
A Selic não afeta a demanda das famílias, pois as taxas de juros ao consumidor se descolaram dela e o comércio soube adequar as prestações ao alcance do bolso do consumidor. A elevação da Selic aumenta as despesas do governo federal com juros, ou seja, aumenta a demanda do governo. Pode-se argumentar que a Selic cumpriria o papel de orientar as expectativas dos agentes econômicos. Não parece, pois o BC ao sinalizar a possibilidade de elevação da inflação para daqui a doze meses, os consumidores podem antecipar compras e as empresas remarcar preços.

Finalmente poder-se-ia argumentar que a Selic por ser elevada, atrai dólares na busca de ganhos fáceis pelo investidor estrangeiro e com isso aprecia o real, reduzindo os preços dos produtos importados (âncora cambial). Ocorre que essas aplicações especulativas de estrangeiros têm dupla mão: entra X e sai X mais os juros, ou seja, acaba saindo mais dólares do que entrou, o que leva à depreciação do real, causando inflação no médio prazo. Além disso, há dano ao País, pois o BC cria uma bomba de sucção de recursos públicos para o exterior. Diante disso tudo, o que fazer?

Seguem algumas sugestões.

1) A meta de inflação deve ser definida para horizontes de doze meses e não por ano, como é hoje, e a responsabilidade por cumpri-la é do governo (equipe econômica e BC).

2) Ampliar as políticas de estímulo (fiscais e creditícios) à produção industrial e agropecuária para aumentar a oferta.

3) Reduzir o preço ex-refinaria, margens de distribuição e eliminação da CIDE para o óleo diesel e isenção/redução de pedágio para transporte de carga. Isso rebaixa custos de locomoção e de fretes

4) Estimular a criação de centros de abastecimento para comercialização direta entre produtores e consumidores de produtos agrícolas. Existem experiências exitosas em prefeituras.

5) Criar programa permanente de orientação aos consumidores via internet e mídia para facilitar decisões de compras a preços mais acessíveis.

6) Controlar os preços dos monopólios.

7) Reduzir/eliminar a tributação sobre produtos e serviços de consumo popular.

8) Usar alíquotas/quotas para importação e exportação em casos de majorações indevidas de preços internos. Exemplo: minério de ferro.

 9) Reduzir a Selic ao nível internacional e controlar a oferta de crédito ao consumo via ajuste nos depósitos compulsórios e/ou alteração na relação capital sobre empréstimos às instituições do setor financeiro.

10) Apresentar relatórios bimestrais sobre as ações adotadas para o controle inflacionário e seus resultados. Finalmente é sempre bom ressaltar o peso sobre a demanda das despesas com juros, que atingiu nos últimos doze meses encerrados em maio R$ 179,4 bilhões ou 5,42% do PIB! A taxa básica de juros atual, excluída a inflação é de 5,2%, mais do dobro do segundo colocado com taxa mais alta que é a China com 2,4%. Enquanto não for resolvida essa anomalia será impossível por em ordem as finanças públicas e o desenvolvimento de forma sustentada.

O País não pode se dar ao luxo de desperdiçar 5,4% do seu PIB com taxas anormais de juros. Creio que esse será um dos principais desafios imediatos do próximo governo. Usando um conjunto amplo e integrado de ações, a possibilidade de sucesso na redução da inflação é superior ao uso duvidoso e exclusivo da Selic.

(*) Estadão

Eleições 2010 - Marina a menos estatizante

Candidata faz hoje sua primeira apresentação ao mercado financeiro internacional
Valor Eonômico online
Alex Ribeiro, de Nova York
22/07/2010

A candidata a Presidência pelo PV, Marina Silva, tentará mostrar hoje em Wall Street, na sua primeira apresentação aos mercados financeiros internacionais, que defende ideias econômicas diferentes dos seus dois principais adversários, José Serra e Dilma Rousseff.

Em evento organizado pela Bovespa BM&F, Marina irá se colocar como a candidata mais confiável quando o tema são três pilares macroeconômicos básicos, representado pelo câmbio flutuante, metas de inflação e superávits primários.

Também se apresentará como defensora de políticas favoráveis ao crescimento sustentado de longo prazo da economia. Vai defender mais livre mercado e menos governo, em contraponto ao suposto estatismo de Dilma, e lançar uma nova agenda microeconômica. Até agora, Marina vinha basicamente defendendo o chamado tripé da política econômica. Com esse discurso, era capaz de transmir confiança aos mercados financeiros, mas não conseguia se destacar muito de Serra e Dilma, que vão na mesma linha. A audiência não será das maiores.

Cerca de 150 investidores brasileiros e estrangeiros confirmaram a presença no evento da Bovespa BM&F, o que representa apenas um quatro dos presentes em apresentação semelhante de Dilma, em fins de maio. Marina e seus assessores econômicos não tiveram encontros individuais com o mercado, ao contrário dos auxiliares de Dilma, que cumpriram uma agenda paralela em Wall Street.

"Viemos aqui para mostrar que a Marina não é só uma líder ambiental", afirmou o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos autores do programa econômico de Marina, que ajudou a escrever o discurso que será feito hoje. Há dúvidas sobre qual será o poder de Giannetti num eventual governo Marina, já que ele insiste que não irá assumir cargos em Brasília. "Não consigo nem controlar as contas de casa", disse, em entrevista ao Valor.

Outros economistas com visões diferentes, como Paulo Sandroni, também trabalham no programa de governo - e podem assumir funções importantes. Pelo menos ontem, porém, Marina fez questão de prestigiar Giannetti como um interlocutor central em questões econômicas. "Quem fala sobre juros é o Giannetti", afirmou, durante a inauguração de um comitê domiciliar quando jornalistas pediram que comentasse a decisão sobre juros que o Banco Central tomaria algumas horas depois. Giannetti, depois de hesitar um pouco para começar a falar, mostrando desconforto com o papel, defendeu o BC.

"O BC pode ter exagerado aqui e ali no ajuste fino, mas sempre acertou a direção da política monetária." Ao Valor, Giannetti disse que Marina irá mostrar hoje a Wall Street que é mais confiável que Serra e Dilma quando o tema são os pilares macro. "Rejeitamos o artificialismo monetário e cambial, a ideia de que a ação voluntarista de um presidente possa atropelar a independência do BC", disse, referindo-se a uma das fragilidades de Serra aos olhos do mercado, já que ele é um crítico das políticas monetária e cambial. "Vemos também com certa preocupação a tendência estatizante desse último ano do governo Lula, que está muito identificado com a candidatura Dilma."

O mercado vê riscos na política fiscal de Dilma. Quando o assunto é a política monetária contemporânea, Giannetti está no grupo dos mais conservadores. Ele não concorda, por exemplo, com a leitura recente do mercado financeiro de que a inflação preocupa menos, depois que saíram dados que mostram fraca atividade econômica.

"O BC não pode basear as suas decisões nos dados de apenas um mês, que estão sujeitos a sazonalidades e influências de eventos como a Copa do Mundo", afirmou. "Estão usando essa oportunidade para forçar o BC a subir menos os juros." Giannetti vê o BC subindo os juros por vários meses, enquanto o mercado começa a apostar que a última alta simbólica será no proximo encontro, em setembro. Marina, no seu discurso, vai se vender a Wall Street como a candidata que pode fazer mais para garantir o crescimento sustentado da economia no longo prazo.

Giannetti afirma que, hoje, o Brasil cresce a taxas superiores a 7% apenas porque está numa recuperação cíclica. Ou seja, durante a crise, a economia cresceu pouco, e agora está como que recuperando o tempo perdido, ocupando a capacidade ociosa de produção. "Daqui a pouco vamos bater no nosso limite de crescimento", afirmou, referindo ao Produto Interno Bruto (PIB) potencial da economia, ou seja, o limite máximo de crescimento que não causa problemas como inflação e déficits externos insustentáveis. Segundo o economista, é muito difícil determinar qual é o PIB potencial, "mas esse número está mais perto de 4,5% do que de 7%".

Para crescer mais, afirma, serão necessárias algumas reformas. A tributária, afirma, será fundamental para que o governo, que arrecada o equivalente a 36% do PIB e toma emprestado outros 3% por meio de seu déficit nominal, deixe espaço para o setor privado crescer. A reforma fiscal, afirma, também abriria espaço para mais investimentos privados. "Precisamos terminar essa história de economia em marcha forçada", afirma Giannetti, referindo-se à política adotada pelo regime militar nos anos 1970, com o Estado forte puxando a economia.

Outra frente para aumentar o crescimento potencial, afirma, são reformas microeconômicas como no mercado de trabalho e no campo regulatório para infraestrutura. Essa é uma agenda, segundo o assessor economico de Marina, que foi adotada no principio do governo Lula, mas depois abandonada. Outros temas, como educação e meio ambiente, também vão integrar o discurso.